terça-feira, 18 de março de 2008

Eu posso ver o que você sente, de Hugo Pierot :: texto de Thaïs Dahas

Eu vejo em ti aquela mulher que traz a mesma expressão desde o amanhecer. A imagem do teu rosto, da ambigüidade daquilo que tu nunca realmente sentes, não muda com o passar do tempo. Não há cansaço na tua imagem, mesmo que tenha estado assim, contraída, o dia inteiro. O vermelho-verde-azul da tua pele faz teu movimento estático, como se ainda pulsasse vida, numa imagem que nunca de fato vivera. O claro e o escuro passeiam pelo teu rosto, faixas horizontais de luzes e de escuridão que parecem rastrear cada célula dessa mulher-imagem expressiva que não desaparece da minha frente. Eu sinto que até terias algo a dizer, algo alegre ou triste, mas a palavra ficou por ser dita, presa nesse teu defeito de transmissão. Teu sorriso triste, teu semblante (in)feliz tem a duração de um dia, um dia inteiro na vida de moradores que te ignoram, que só queriam de volta o real movimento da mulher que é você e das tantas outras mulheres que a máquina oferece todos os dias. Mas eu busco você, ali parada – eu me interesso por você. Teu lamento sonoro, eletrônico, parece ter fim quando a escuridão te acaricia e cobre tua boca, fazendo você se calar – mas a dor ainda reside no teu silêncio. Eu não sei bem o que tu sentes, nem sei o que sentir contigo diante de mim, assim, com algo por fazer mas que nunca é feito, algo por dizer, que nunca é dito, com uma expressão por se definir. Esse teu não-ser, triste ou feliz, o teu mistério – tu só podias ser mulher nesse teu existir congelado e quente. E é o teu defeito que me encanta. Você não se deixou transmitir.

Thaïs Dahas

Um comentário:

Cinecasulófilo disse...

EI CADE A COBERTURA DO CINE CEARÁ?????????????????? PO LOGO ESSE ANO Q O FESTIVAL PARECE Q FOI MASSA!!!! VAMO LA GALERA