sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Crítica :: Poeta de Sete Faces, de Paulo Thiago

A verdade que falta sentida na pele
por Ythallo Rodrigues

Fora há alguns anos, morando ainda no Cariri, quando ouvi falar deste filme, “Poeta de Sete Faces”, de Paulo Thiago (diretor de “Policarpo Quaresma: Herói do Brasil”). Estudante de literatura brasileira que era e completamente apaixonado pela poesia do poeta itabirano, Carlos Drummond de Andrade. Ainda sem nenhuma intencionalidade maior pela arte audiovisual, fiquei instigado com a possibilidade de poder ver retratada na telona a poesia do grande poeta. Infelizmente, este filme não chegou ao cinema da minha cidade, como quase todos os filmes brasileiros (mas isso é um outro problema). Eis que hoje, cinco anos depois e estudante de cinema em Fortaleza, tenho a possibilidade de ver este filme.
Pois bem, comecemos do início. Este filme não poderia ser mais decepcionante (para não falar trágico), no que concerne aos aspectos poéticos e principalmente aos cinematográficos. Um documentário que em sua sinopse se diz um documentário poético, deveria no mínimo presar pela poesia de suas imagens e de seu som. No entanto, o que vemos é uma seqüência infame de narrações, depoimentos, imagens redundantes, reconstituições, entre outras obviedades, que tornam cada fato narrado absurdo, aliás, se fosse pelo menos absurdo teria uma carga poética, talvez a palavra exata seja pífio. O filme tenta a todo custo se agarrar aos textos do poeta, que a todo momento são lidos, muitas vezes e inclusive pela metade, e ao melodrama de uma possível vida simples, na qual Carlos Drummond de Andrade se acobertou por toda sua existência.
Em certo momento de sua carreira Charles Chaplin disse: “A beleza é a única coisa preciosa da vida. É difícil encontrá-la – mas quem consegue, descobre tudo.”. É patente a sensação de que o cineasta – do também ruim Policarpo Quaresma – neste filme, não encontrou ou sequer tentou encontrar a beleza magnífica nos versos do poeta de sete faces. Tudo no documentário é de plástico, sem alma e sem verdade poética ou cinematográfica, percebe-se isso mais nitidamente na forma como os grandes atores Othon Bastos, Paulo Autran, Paulo José, entre outros, recitam os poemas, é tão fake que jamais condensariam naquelas palavras jogadas ao vento e de tal forma, a sensibilidade poética drummondiana. Sem contar os indefectíveis cenários que reforçam ainda mais a sensação de veleidade das imagens.
Mas quando tudo parece perdido vem o pior, existem dois momentos que são, absolutamente, memoráveis (no mal sentido). O primeiro é logo no início do filme quando o guitarrista Samuel Rosa toca e canta flutuando sobre um croma bizarro, o magistral “Poema de Sete Faces”, e pior a música que foi composta e acompanha as imagens é no mínimo tosca. É impossível, sendo um observador um pouco atento e minimamente sensível, não perceber o nível de distorção audiovisual que esta cena causa, é uma verdadeira aberração e no meu ver um desrespeito a uma obra emblemática da nossa literatura.
Por fim, a seqüência final. São imagens em câmera lenta de belíssimas mulheres fazendo cooper no calçadão de Copacabana, que não deixam nada a dever a uma propaganda da campanha contra diabetes, no entanto essas imagens ilustram a narração da última fase poética de Carlos Drummond, na qual o poeta fez poemas eróticos e de elogios carinhosos às mulheres, segundo a narração.
Enfim, nestas minhas observações, posso estar parecendo pretensioso falando palavras tão severas sobre um filme de um cineasta brasileiro com vários longas-metragens em seu currículo e tal, no entanto, devo admitir que não preciso insistir em achar algo de interessante na filmografia deste cineasta brasileiro.
Ythallo Rodrigues

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