terça-feira, 9 de outubro de 2007

Tropa de Elite, por Pedro Diógenes

“Tropa de Elite” é o filme mais importante do Brasil dos últimos anos! Aqui não importa se ele é extraordinário ou péssimo. O que importa é que ele esta sendo visto e discutido. Ele esta sendo visto por todos, não importando a classe social, a crença, idade, interresse pelo cinema e o nível cultural. E eu estou falando de um filme que ainda não foi lançado no Cinema!!! “Tropa de Elite” é um fenômeno que precisa ser entendido, pois além de ser muito visto, ele é motivo de conversa, e muitas vezes discussões, por todos. Discutir “Tropa de Elite” é discuti a violência nesse país. Faz duas semanas que eu não passo um dia sem falar nesse filme. Pessoas que nunca conversaram comigo sobre cinema vêm me perguntar se vi esse filme.

A violência no Brasil já produziu números e notícias inacreditáveis, mas nunca se discutiu tanto a violência como com o filme. Será que a ficção levanta mais discussão que a realidade? É o poder do cinema, e estamos falando de um filme que coloca a violência em primeiríssimo primeiro plano.

“Tropa de Elite” é a visão de um policial sobre a violência nos morros do Rio de Janeiro. Esse policial é o narrador onipresente do filme. Ele não pára de falar um só instante e sua opinião fica bem clara: ele acredita que só a violência pode combater a violência, chama sua corporação de seita, tortura mulheres e adolescentes, humilha desumanamente seus subalternos, mata, coloca a culpa da violência nos jovens de classe media que fumam maconha e quer que toda essa violência se perpetue achando um substituto que seja a “altura” dele.

Duas conclusões consigo tirar rapidamente após ver o filme: a) esse personagem é um assassino perigoso para a sociedade que pensa que é Deus e deveria estar em um manicômio se tratando; b) e que está na hora de se pensar na descriminalização das drogas.

Fico impressionado que muitas pessoas se identificam com o personagem, acham que ele age certo e que ele é uma espécie de herói. “A pessoa gostar ou não de um filme fala muito mais da pessoa do que do filme”. Adoro essa frase dita em sala pelo professor Alexandre Veras e acho que ela poderia se adaptar para o momento e ficar assim: Um filme ser um fenômeno em um País fala mais do País do que do filme.

“Tropa de Elite” é um fenômeno que precisa ser entendido.



Pedro Diógenes

Realizador de Audiovisual e aluno da Escola de Audiovisual de Fortaleza


6 comentários:

Anônimo disse...

qual é o fenômeno? e como é que você se coloca com relação a ele? e o filme, tem alguma relevância em termo de cinema ou é só um fenômeno social?

Anônimo disse...

Achei fantástica a sua colocação final, Pedrinho. Um filme que tem essa repercução, com certeza fala mais do país do que do próprio filme.
O que eu penso, no entanto, é: até que ponto o sucesso se refere ao filme e sua trama/temática/abordagem? Será que o fenômeno não está quase que unicamente na própria pirataria? Claro que a narrativa é atual e seduz o espectador. [lembro agora de uma das nossas conversas de bar onde discutíamos o papel desses filmes de tráfico, favelas e violência na produção cinematográfica nacional atualmente]
Mas o que quero dizer é que o fenômeno está muito mais no fato de TANTA gente ter assisitido ANTES DA ESTRÉIA do que no próprio filme. Claro que, aí, entra um contra-argumento óbvio: se o filme não tivesse um tema que interessasse, nem tanta gente teria assisito. Lógico. Um que indica pro outro, que empresta prum outro e por aí vai... Não questiono, aqui, a relevência ou qualidade da narrativa (até pq eu não vi o filme). O que tá em questão é: se o filme fala muito mais de quem assiste e, quem assiste o fez através da pirataria, esse filme fala, no momento, antes de tudo, do comércio pirata. Se, internamente, ele trata do tráfico de drogas e suas consequencias, externamente, o que tá em foco é o tráfico de obras artísticas e suas consequencias.
A primeira e mais óbvia conclusão que podemos chegar é que a pirataria expande absurdamente o alcance dos produtos culturais. Absolutamente ninguém se preocupou em assumir que já viu esse filme. O próprio diretor disse que já recebeu 4 ligações de estudantes universitários pedindo autorização para fazerem suas monografias sobre o filme, dizendo já tê-lo assistido!
Isso quer dizer alguma coisa. Dizer não, gritar. "Tropa de Elite" tá fazendo a papulação gritar pelo acesso às obras cinematográficas. Não sei se as drogas devem ser legalizadas no Brasil, mas as leis do direito autoral precisam urgentemente serem revistas e rediscutidas. Afinal, o que seria de nós, estudantes e interessados em cinema, sem os emule da vida?
Depois que lançar no cinema, venho falar do filme em si! Nada contra a pirataria, claro! Por enquanto, o que me tá me interessando é esse marketing da coisa mesmo. Semana que vem eu tento me colocar a respeito da última indagação do Luiz, bastante pertinente por sinal...

Anônimo disse...

Tropa de Elite é um fenomeno comercial e social. Todo mundo sabe da existencia desse filme nacional(isso é raro). Quase todo mundo viu! E todo mundo que ve ele tem nescessidade de falar sobre o filme. É um fenomeno da pirataria. Provavelmente será um fenomeno de publico no cinema.
Mas em termos de cinema(como uma arte) o filme não é NADA! Seu suposto realismo que faz muita gente ver o filme e sair dizendo que "isso é a relaidade brasileira" é pessimo e ultrapassado. É um filme que não acredita nas suas imagens, pois as cenas são explicitas (não escondem nada) e mesmo assim o filme utiliza a musica para reforçar cada imagem, e o pior, ainda tem uma narração(que enche o saco!)reafirmando e explicando tudo que a imagem mostra e que a musica reforça. É um filme que não acredita nele mesmo! Mas tem gente que acredita!

Anônimo disse...

Assisti nesse feriado pela segunda vez, numa das inúmeras cópias piratas em circulação no país. Já fiquei mais de meia hora deitado na cama olhando pro teto e pensando no filme. Ou melhor, pensando numa determinada realidade do país que o filme se propôs a narrar: caótica, escrota e nojenta. Importante dizer que sempre defendi um cinema com essa pegada. Como uma forma de denúncia social, mostrar uma realidade podre é necessário para incomodar as pessoas, deixar a mais apática das criaturas se remexendo na cadeira, se contorcendo, sair da sala escura se sentindo responsável também. Continuo defendendo isso. O cinema deve cumprir essa função sim. Aliás, acho válida toda e qualquer representação artística que suscite problemáticas relevantes. Que possa agir sobre a apatia das pessoas, que contribua para o surgimento de debates, que faça emergir sobre os escombros da acomodação verdadeiros cidadãos, mais participativos e atuantes em nossa combalida e maltratada sociedade.
Mas aqui não é bem o caso. Concordo com o que já foi dito de ruim sobre o filme. Você se sente meio asfixiado, maltratado, torturado. É assim que estou agora. Pois acho que o filme envolve, chama o espectador pra dentro dele. È inevitável não mergulhar naquele universo do capitão Nascimento (interpretado de forma incrível por Wagner Moura). Fico preocupado com o alcance do filme. Diferentemente da última declaração do Pedrinho, considero um filme de impacto, bem construído. Seus planos desconcertantes, a câmera na mão e a narrativa seca, extremamente violenta, convencem. Difícil não se envolver. Sou professor de História da rede de ensino particular da cidade. Meus alunos não param de citá-lo. Ele serviu bastante como objeto de discussão, incomodou muitíssimo. Nesse ponto, ele é válido. Mas e o poder de alcance da mídia? Onde o filme for exibido existirá um potencial de discussão capaz de levantar outras visões diferentes? O BOPE surge como uma instituição idônea, livre da corrupção tradicional, isenta de culpa, cumpridora da sua tarefa. Um círculo vicioso que não dá sinais de mudanças. O capitão Nascimento encontra seu substituto e ele, ciente das suas funções, garante a continuidade de ações violentas e necessárias. O que ficou de mais pesado é o discurso dos policiais do BOPE: a violência praticada pela instituição repressora é necessária. Matar traficante no morro é preciso. Vivemos numa guerra e ela precisa ser justificada. O mais absurdo que achei é que o único responsável por toda essa realidade são as pessoas que consumem drogas. O policial corrupto (que recebe grana pra garantir a tranqüilidade da continuidade dos “negócios ilícitos” no morro) inclusive só existe por que temos a classe média que compra maconha e sustenta o tráfico. Uma visão simplista, ingênua. No decorrer do filme, o discurso é fascista, a todo o momento tive a sensação de que a pena de morte é necessária. Foi isso que ficou. Parafraseando a irritante música central do filme o grande osso duro de roer é esse discurso. Não engulo essa. Tenho saudades dos exageros de Sérgio Bianchi. Ele consegue ser mais “verdadeiro”.

Unknown disse...

Pede pra sair!!!
Essa é a nova frase da moda aqui na periferia de fortaleza...lembro-me de quando eu era criança e brincava de polícia e ladrão com meus amigos, poucos gostavam de ser polícia então tinhamos que tirar no par ou ímpar, pois devido o nosso convívio direto com a periferia sabíamos que esse ladrão não passava de uma vontade de ser malandro(experto)para fugir da pilantragem dos policias...Hoje descubri que as crianças da rua onde moro brincam de humilhar os outros com socos e ponta-pés, tendo como pressão psicológica frases gritadas nos ouvidos.
As frases são as seguintes: pede pra sair...!!!
Aqui é o BOPE porra...PM filho da puta!!!
entre outras frases que só reforsam essa idéia de "BOPE-Herói" que o filme passa.
Sei que é importante para a sociedade filmes quelevantam questões que estão presentes na sociedade, mesmo achando que essa não deve ser uma preoculpação primeira do cinema.O problema é que são poucos os filmes que sabem provocar questões de forma a não induzir o expectador para seu possível discurso, o que não é o caso neste filme.
Como diz Marcelo Ikeda em sua crítica sobre o filme: "um bando de garotos após o filme deve querer se alistar no BOPE."
Lembro de quando vi algumas crianças brincando de peão...Agora é só porrada...E o pior de tudo é que a porrada agora é uma simulação das porradas de policias...Uma pura contradição.
Repito o que disse em um comentário no blog do Ikeda, o filme agora se tornou importante pois ele existe, mas seria melhor se ele não estivesse existido.
Agora digo ao filme: PEDE PRA SAIR...!!!

Cinecasulófilo disse...

Viva o Cahiers du Ceará!!! Quem não gostou que "paça pra sair"... gostei muito do texto do Luiz sobre o "Amantes Constantes", espero q vces tenham visto o filme, pq ele é DO-CA-RA-LHO!!! Meus comentarios sobre o filme
http://cinecasulofilia.blogspot.com/2006/11/amantes-constantes-de-phillipe-garrel.html#links